A Literatura de
Cordel é uma das mais genuínas manifestações da cultura popular brasileira. Sua
influência está presente em muitas manifestações artísticas, entre elas o
teatro e o cinema. Foi com base na literatura de cordel que Ariano Suassuna
escreveu a peça Auto da
Compadecida, que vertida para o cinema, foi um grande sucesso. O cordel chegou ao
Brasil via Portugal, e se estabeleceu na Região Nordeste, onde ganhou feição própria. A
Bahia sempre foi um grande produtor de cordel desde os tempos de Rodolfo Coelho
Cavalcante, Minelvino Francisco Silva, João Damasceno Nobre, Antônio Teodoro
dos Santos, Antônio Alves da Silva, Cuíca de Santo Amaro e Bule-Bule, até os
tempos atuais, em que surgem nomes de destaque, como Antônio Barreto, Jotacê
Freitas, Zeca Pereira e Marco Haurélio.
No Brasil, o cordel ganhou feição própria, com os romances do ciclo do boi e as
histórias de vaqueiros intrépidos, beatos e cangaceiros. Os romances de
cavalaria, no entanto, inspiraram clássicos do gênero, como A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás,
de Leandro Gomes de Barros, e Roldão
no Leão de Ouro, de João Melchíades Ferreira da Silva, textos do chamado
ciclo de Carlos Magno, personagem histórico abraçado pela cultura popular do
Brasil e de Portugal. Esta interface da cultura popular alimentada pelo cordel
está presente na chamada cavalhada teatral, encenação a céu aberto de um auto
tradicional que rememora as batalhas travadas entre mouros e cristãos.
A prática poética
do autor de cordel, que é ao mesmo tempo oral e escrita, incorpora princípios
de um conhecimento poético tradicional, com a métrica e a rima obedecendo a
padrões já bastante conhecidos, usualmente com versos de sextilhas, setilhas ou
décimas. Por ser uma criação literária individual, mas voltada à temática de
interesse coletivo e pelo número elevado de exemplares impressos, o cordel
atrai um grande número de pessoas, realizando o nobre papel de alfabetizar
cidadãos, e ainda promovendo o hábito da leitura, bem como irradiando cultura.
O projeto Cordel: a Poesia Encantada do
Sertão, por meio das diversas ações como formação, exposições, mostras,
debates, formação da cordelteca e do Encontro
Estadual de Cordelistas, enfocará todas as faces da poesia popular,
ressaltando a relevância do cordel para a cultura do nosso município, estado e
país. Para o município de Serra do Ramalho, que agrega tradições culturais como
o reisado, cavalhadas, samba de roda e dança de São Gonçalo, a atividade será de
grande importância para a afirmação da identidade cultural de seu povo, em
grande parte oriundo da região atingida pela construção da barragem de
Sobradinho, em meados da década de 1970.
Coordenação geral: Itamar Mendes,
Lucélia Borges e Silmária Ferreira.